sexta-feira, 31 de julho de 2009

Voce acha que o estado tem limites??

Pois veja essa.
Deu no Globo de hoje:


Lula quer medidas para impedir saída de jogadores no meio do Brasileirão

BELO HORIZONTE - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta-feira a possibilidade de interferência no mercado de futebol. Ele não concorda com a negociação de jogadores brasileiros para o mercado europeu durante o Campeonato Brasileiro e citou especificamente os casos de Corinthians e Cruzeiro. Segundo o presidente, o problema pode ser enfrentado de duas formas: o calendário do campeonato brasileiro muda ou se encaminha o projeto de lei ao Congresso proibindo a venda de jogadores durante o campeonato.

- Alguma coisa a gente tem que fazer - disse o presidente, durante entrevista na base aérea de Belo Horizonte.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Em defesa dos estrangeirsmos ( parte II)



Ludopédio no gramado

"O uso de estrangeirismo costuma enriquecer
o idioma. Amplia o vocabulário. Contribui para
simplificar a linguagem. Facilita a comunicação
e a exposição de ideias. O inglês é um bom exemplo"


Por Mailson da Nobrega, na revista Veja

Se o governador Roberto Requião vivesse e pudesse fazer a lei no fim do século XIX – quando o futebol chegou ao Brasil –, a palavra poderia não existir entre nós, dadas as complicações da norma. Nas propagandas, o vocábulo football teria de ser traduzido para o português. Ao seu lado apareceria ludopédio (futebol, segundo o dicionário Houaiss).

É assim que reza projeto recentemente aprovado pela Assembleia Legislativa do Paraná, por proposta do governador. Obriga a tradução de palavras de outros idiomas em propaganda no estado. O objetivo, segundo Requião, é "o reconhecimento e a valorização da língua pátria". A base seria o princípio da soberania nacional (artigo 1º da Constituição).

Se a regra fosse nacional e existisse naquela época, haveria que encontrar tradução para termos ingleses hoje incorporados ao mundo do futebol: esporte, time, gol, drible, craque. O jeitão de ridículo de ludopédio talvez se tornasse familiar. Isso aconteceu com escanteio e impedimento, que substituíram corner e off-side.

O paranaense Coritiba teria outro nome. Seu título oficial é Coritiba Foot Ball Club (www.coritiba.com.br). Seria complicado traduzir as três palavras inglesas em propaganda. Procuradores poderiam questionar o seu uso na fachada da sede do Coritiba. Melhor chamar-se Sociedade Recreativa Coritiba de Ludopédio.

O mesmo xenofobismo está na base de projeto de lei do deputado federal Aldo Rebelo. Pela proposta, toda e qualquer palavra ou expressão em língua estrangeira usada no território nacional ou em repartição brasileira no exterior teria de ser substituída "por palavra ou expressão equivalente em língua portuguesa no prazo de noventa dias a contar do registro da ocorrência". Haveria umas poucas exceções.

A absorção de palavras estrangeiras é típica das línguas vivas e fruto do intercâmbio de bens, serviços, pessoas e ideias. O mesmo ocorreu na dominação estrangeira, como na introdução forçada do latim pelos romanos e de línguas europeias pelos impérios coloniais, incluindo o português no Brasil. Durante mais de dois séculos depois da conquista da Inglaterra pelos normandos (1066), o francês foi a língua oficial da corte.

O uso de estrangeirismo costuma enriquecer o idioma. Amplia o vocabulário. Contribui para simplificar a linguagem. Facilita a comunicação e a exposição de ideias. O inglês é um bom exemplo. Aberto à influência externa, ganhou inúmeras palavras durante as invasões romana (o nome da capital vem do latim Londinium) e normanda. E importou milhares do idioma de países que dominou e de muitos outros.

Apenas 20% a 30% das 80 000 palavras inglesas dicionarizadas pertencem às suas origens saxônicas. O francês, que teria contribuído com parcela semelhante, está muito presente nas artes e na culinária. O latim está nas ciências e o grego, na medicina (como também ocorre em outras línguas). Palavras espanholas, italianas, russas, indianas e outras integram o vocabulário inglês. O português chegou direto com bossa nova, cobra e piranha ou por adaptação com cashew (caju), manioc (mandioca) e mulatto (mulato).

O português se beneficiou de muitos vocábulos estrangeiros. Nem nos damos conta de que o francês nos trouxe ateliê, atachê, bufê, cinema, filé, perfume, sutiã. O inglês nos forneceu xampu, nomes de esportes (além do futebol, beisebol, voleibol, basquetebol, handebol, golfe, tênis), bife, buldogue, zíper, estresse. Se houvesse a Lei Requião, como seriam traduzidas a italiana pizza, a árabe esfirra e a espanhola paella?

A tecnologia continua a trazer estrangeirismos, que os jovens adotam rapidamente e os adultos, mais tarde. Mesmo quando há correspondentes em português, a preferência é importar e aportuguesar termos ingleses: deletar, atachar, inicializar. Deletar, que está no Aurélio, é mais um vocábulo de raiz latina (delere) no idioma de Shakespeare.

Em Portugal, o mouse do computador é rato mesmo. O que ganhariam os paranaenses se nas propagandas aparecesse rato ao lado de mouse? Nada. A Lei Requião é, pois, uma tremenda tolice. Ela não reforçará a soberania nacional. Significará apenas aumento de custos, perda de tempo e falta do que fazer.

Eis um feito que Lula não aplaudiu

Por J.R. Guzzo | 09.07.2009 | 00h01

Revista EXAME -

Governos, em qualquer lugar do mundo, praticamente nunca erram quando reduzem ou eliminam algum imposto, e nas raras vezes que conseguem fazer isso jamais esquecem de bater palmas para si mesmos. No Brasil já é diferente. Quando algum imposto é diminuído ou extinto, o acerto é o mesmo que se observa no resto do planeta - mas o governo brasileiro, em vez de incluir o benefício na sua lista de realizações e ficar alegre, faz cara de amuado e fica triste. É o caso, no momento, da redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI), nas áreas automobilística e de eletrodomésticos. A diminuição do imposto, que é apenas temporária, está obtendo resultados muito bons; na indústria automotiva, especialmente, alcançou o feito de segurar as vendas de veículos mais ou menos no mesmo nível de 2008, um ano de recordes na produção do setor. Que outro país está conseguindo mais do que isso nestes tempos de dureza global generalizada?

Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sempre tão rápido quando se trata de aplaudir seu próprio governo, não está satisfeito; andou dizendo, na ocasião em que foi prorrogado o prazo de isenção do IPI, que não gosta de reduzir impostos para estimular a economia. Os produtores, segundo ele, não "repassam" essa diminuição de custo ao consumidor; melhor seria manter os impostos e distribuir o dinheiro arrecadado "para os pobres", que vão gastá-lo com consumo e, aí sim, movimentar a máquina produtiva. É óbvio, em primeiro lugar, que a redução do IPI está mantendo animadas as vendas de veículos e eletrodomésticos; se esse tributo estivesse mais alto, cada centavo do montante cobrado estaria incluído no preço dos produtos, tornando-os mais caros do que estão. Em segundo lugar, é igualmente óbvio que quem paga o IPI não é a indústria nem o comércio; é o mesmíssimo consumidor que Lula se declara preocupado em defender. Enfim, nem o mais crédulo dos cidadãos acha que a arrecadação a mais seria distribuída "para os pobres". Não seria distribuída coisa nenhuma, nem para os pobres, nem para os ricos e nem para os médios: continuaria, como sempre, caindo no caixa sem fundo do governo e servindo para sustentar as despesas que ele tem consigo mesmo.

O governo lamenta até hoje os 40 bilhões de reais que deixou de arrecadar com o fim da CPMF e que deveriam estar sendo aplicados "na saúde". Conversa, é claro. Se fosse assim, não continuaria aumentando, sem parar, os gastos com custeio e folha de pessoal, que cresce na base de 1 000 funcionários por dia. Impostos a mais, para o governo, têm servido para o propósito único de aumentar o que consome com o próprio funcionamento. Só isso.