terça-feira, 11 de agosto de 2009

Existe esperança

Lei antifumo

'Tem o Estado direito de proibir o fumo em ambientes fechados?'

Publicada em 11/08/2009 às 12h21m

Artigo do leitor Adolfo Sachsida para o Globo

Recentemente alguns governadores começaram a se empenhar para banir o uso do cigarro em ambientes fechados. O argumento desses governantes é simples e antigo: não-fumantes expostos ao cigarro também contraem doenças, mesmo não fumando diretamente. Apesar de o argumento estar correto, sou contra esse tipo de intervenção.

Vamos por partes. Primeiro, acredito que a grande maioria concorde que seja direito do Estado banir o uso do cigarro dentro de repartições públicas. Isto é, em locais públicos fechados o Estado tem o direito de impedir que não-fumantes sejam expostos à fumaça gerada por fumantes. O exemplo mais simples disso é uma repartição pública como o DETRAN. Todas as pessoas que querem ou necessitam de carteira de motorista precisam recorrer ao DETRAN, e não há substituto para isso. Assim, caso seja permitido fumar dentro do DETRAN, o não-fumante não tem como se proteger da fumaça gerada pelo fumante.

Contudo, situação muito diferente ocorre em estabelecimentos privados. Um estabelecimento privado não tem o monopólio de um serviço. Assim, caso o cliente sinta-se incomodado com o cigarro alheio, basta mudar de local. Ou seja, basta recorrer aos serviços de outra empresa onde fumantes não sejam aceitos.

Assim, melhor do que o Estado legislar sobre o fumo dentro de estabelecimentos privados seria deixar o próprio mercado fazer tal escolha. Bastaria a cada estabelecimento dizer na entrada: "Aqui fumar é proibido", ou então "Aqui fumantes são bem-vindos", ou ainda "Aqui temos lugares reservados a fumantes". Dessa maneira, caberia ao cliente escolher o estabelecimento que melhor se adeque a suas necessidades e preferências.

Note que mesmo os funcionários que trabalham em estabelecimentos onde o fumo for permitido iriam ser recompensados por isso. Afinal, como estão expostos a piores condições de trabalho, os funcionários que trabalhassem nesses locais seriam recompensados com salários maiores. Enfim, o mercado é capaz de fazer tal alocação. Assim, não cabe ao Estado legislar sobre o uso do fumo dentro de estabelecimentos privados.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Eu tambem sou um imbecil

Por Rodrigo Constantino
Retirado do excelente blog www.rodrigoconstantino.blogspot.com


O presidente Lula chamou de “imbecis” e “ignorantes” todos aqueles que criticam o programa Bolsa Família por acharem que ele pode incentivar a preguiça. Tendo eu me manifestado como sendo um desses “imbecis”, recebi prontamente aplausos de esquerdistas, que finalmente puderam concordar com algo que eu tenha escrito – ainda que apenas o título do artigo. Muitos consideram a esmola estatal uma questão de “direito” ou de “justiça”, e chegam a monopolizar os fins nobres, i.e., somente quem defende o meio estatal para combater a miséria, condena a miséria em si.

Nada mais falso, naturalmente. Mas como combater um programa tão popular – ou seria populista? – é uma tarefa politicamente incorreta, poucos parecem dispostos a fazê-lo, especialmente políticos da oposição e articulistas com receio da “opinião pública”. Não sendo eu nem um nem outro, pretendo apresentar a seguir mais argumentos criticando o programa, que deveria simplesmente ser abolido em prol, paradoxalmente, dos mais pobres.

Recapitulando o que já foi dito, a esmola estatal cria dependência, pois o cão não morde a mão que o alimenta. Além desse fator eleitoreiro, há o incentivo à informalidade ou mesmo ociosidade, já que o governo sustenta a pessoa por prazo indeterminado. Mais: os riscos de corrupção e desvios de verbas são enormes, sem falar do próprio custo do aparato burocrático. De cada real retirado dos pagadores de impostos, uma boa parte fica no caminho, para bancar os burocratas “altruístas”. Por fim, se o governo realmente quisesse ajudar os mais pobres, ele retiraria tantos obstáculos criados por ele mesmo para a criação de riqueza pela iniciativa privada, algo que não interessa aos parasitas no poder.

Nesse artigo, meu objetivo será acrescentar argumentos sobre a viabilidade da ajuda voluntária aos mais carentes, tornando o programa estatal desnecessário, quando não prejudicial. Antes, porém, faz-se necessário recordar que nem sequer faz sentido falar em solidariedade compulsória, aquilo que o programa de esmolas estatais de fato representa. Somente quando há um ato voluntário de caridade podemos falar em moralidade, pois não há nada muito nobre em ajudar um pobre sob a mira de uma arma, que é exatamente aquilo que o imposto do governo faz. Mas parece – e estou especulando aqui – que os esquerdistas não confiam na caridade espontânea dos indivíduos, talvez por projetarem o que são nos demais. Ocorre que no passado, antes do crescimento assustador do welfare state no mundo, isso era exatamente o que acontecia: a iniciativa privada, através das igrejas, de associações e de empresários filantrópicos, fornecia ajuda aos mais necessitados.

No entanto, havia o estigma de ser um “parasita” e viver da produção alheia, aos adeptos dos programas voluntários de ajuda. As pessoas sentiam vergonha pela sua situação de dependência, e por isso mesmo desejavam sair dela o quanto antes. A visão predominante era de que a ajuda deveria contribuir para que a pessoa rapidamente pudesse atingir sua independência novamente, se sustentando por conta própria. O objetivo sempre foi ajudar essas pessoas a sair do programa de ajuda, ao contrário da esmola estatal, que cria uma dependência permanente. Mesmo nos Estados Unidos a quantidade de beneficiados pelos programas estatais de auxílio cresceu de forma explosiva, ainda que a economia estivesse crescendo. Dois dos presidentes que mais expandiram tais programas, Roosevelt e Nixon, foram também os presidentes que mais avançaram sobre as liberdades individuais, o último inclusive chegando a renunciar por causa disso. Durante o período de 1952 e 1970, por exemplo, os beneficiados saltaram de 2 para 10 milhões, e a quantia média recebida mais que dobrou. Nada é tão permanente quanto um programa temporário de governo.

No século XIX, a agência privada Charity Organisation Society oferecia de forma voluntária ajuda aos mais necessitados. Entretanto, havia uma grande preocupação em manter uma ajuda realmente temporária, pois poucos podem contar com fundos “infinitos” como o governo, que tem o monopólio da força para arrecadar impostos. Portanto, a agência tinha que ser eficiente na ajuda, e também evitava aqueles pobres que não mereciam ajuda, pois não apresentavam nenhuma vontade de realmente sair daquela situação. A sociedade acreditava que dar ajuda sem investigar os problemas por trás da pobreza criava uma classe de cidadãos que sempre seriam dependentes dos outros. Ela seria formada, pelos padrões do presidente Lula, por “imbecis” e “ignorantes”.

A Igreja Mórmon é outro exemplo de solidariedade voluntária, pois opera um plano privado de ajuda a seus membros, sendo que o princípio de ajudar cada um a atingir a independência rapidamente também está presente. O trabalho produtivo é uma meta constante, mesmo que seja para fazer algum serviço na própria igreja até encontrar algo melhor. Seria impensável imaginar essas agências privadas comemorando o aumento de necessitados na lista de ajuda, como ocorre quando se trata do governo. Afinal, o governante, que usa o suor alheio, pode sempre posar de caridoso e alardear quanta gente pobre seu governo está ajudando, sem falar que cada um desses representa um eleitor a mais, no mínimo. Como fica claro, os incentivos são bem diferentes entre governo e iniciativa privada.

O conceito de que o trabalho produtivo garante a dignidade do ser humano está ficando ultrapassado após a revolução cultural disseminada pela esquerda. Em vez de enxergar a caridade como aquilo que ela é – uma ajuda, as pessoas têm visto tais esmolas como um “direito”, ignorando que tal “direito” exige como contrapartida, o dever de outro trabalhar para pagar a conta. O governo virou aquilo que Bastiat afirmava: a grande ficção através da qual todo mundo se esforça para viver à custa de todo mundo. Uma “vida digna” para todos, garantida pelo governo, eis o sonho atual. O governo promete aos pobres tirar dos “ricos” para distribuir em nome da “justiça social”, e promete aos “ricos” protegê-los dos pobres, que sem ajuda estatal seriam um bando de criminosos revoltados. Com esse discurso falacioso, o governo engana todo mundo, e concentra poder e recursos. Como no império romano, os governos atuais ainda dão pão e circo para as massas, sob o pretexto de ajudar os pobres. Triste é tanta gente ainda cair nesse velho conto do vigário – ou melhor, do político.

Mas de repente o imbecil sou mesmo eu, que insisto em apresentar argumentos racionais para reflexão, enquanto as massas de fato celebram o seu panis et circense, achando que o presidente Lula é o messias que veio para lhes salvar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Onde está o tal milagre da medicina cubana?

Doctors in Cuba Start Over in the U.S.



Maggie Steber for The New York Times

NURSE, NOT DOCTOR Carlos Domínguez, a hospice admissions nurse, offering comfort to Mercedes Grau as she talked about her mother’s care in Miami

MIAMI — In 1991, Carlos Domínguez, a family doctor in one of Havana’s poorest neighborhoods, bought a boat for 12,000 pesos — the equivalent of saving his entire paycheck for three years — to escape the government that had trained him to be an international doctor.
Maggie Steber for The New York Times

PICTURES OF A FORMER LIFE Carlos Domínguez, along with friends and family, in photographs from the days when he worked as a rural doctor in Lavadero de Sabana, Cuba.

The boat was old and needed to be outfitted with the transmission from a 1952 Ford, one of the many American cars that still cruise the streets of Havana. The mechanic warned him there was no reverse gear. The boat could only go forward.

“Perfect,” Dr. Domínguez, now 46, said he replied. “I don’t plan on coming back. From now on, I’m just going forward.”

And so, armed with his grandfather’s World War II compass, he left Cuba and made his way to Miami, rowing the last seven hours after the gasoline ran out. He was 28 years old and ready to resume his life as a doctor.

But first he needed to pass four exams given only in English, and then put in several years of training as a hospital resident.

Dr. Domínguez, who had been taught Russian in his military school in Cuba, knew no English. Still, he passed one exam before failing the second by a few points. Already married and saddled with family responsibilities, he put away his medical school books, and signed up for a program to become a nurse in one year. Since 2001 he has worked as a hospice admissions nurse, a job that allows him to work with patients while avoiding the hurdles that doctors have to overcome to practice medicine in the United States.

While the rest of the country is suffering from a shortage of primary care physicians, Miami is awash with Cuban doctors who have defected in recent years. By some estimates, 6,000 medical professionals, many of them physicians, have left Cuba in the last six years.

Cuban doctors have been fleeing to South Florida since Fidel Castro seized power in 1959, but the pace intensified after 2006, when the Department of Homeland Security began a program that allowed Cuban medical personnel “who study or work in a third country under the direction of the Cuban government” to travel to the United States legally. The program has effectively turned a crowning achievement of Cuba’s foreign policy on its head.

In the 50 years since the revolution, Cuba has sent more than 185,000 health professionals on medical missions to at least 103 countries. About 31,000, most of them doctors, are in Venezuela, where they work in exchange for cheap oil and other trade benefits for the Cuban government.

And more are in the pipeline. Cuba’s official news agency reported that more than 25,000 health professionals graduated this year, “the largest graduation ever.”

But many doctors on the island are now vying to be tapped for an international mission, in part because they know that no matter where they are sent, they will be one step closer to a visa to the United States.

The missions have earned Cuba much recognition, goodwill and bargaining power. President Obama told reporters at the end of a recent hemispheric meeting in Trinidad that he found it “interesting” to learn from Latin American leaders “about the thousands of doctors from Cuba that are dispersed all throughout the region, and upon which many of these countries heavily depend.”

Yet for many Cuban doctors, who earn the equivalent of $25 a month, the lure of a life of freedom and opportunities in the United States is too strong to resist. And so these children of the revolution, educated by a Communist regime to reject capitalism and embrace socialism, have ended up in Miami, often tending to elderly Cubans who fled the island before the doctors were born.

Ana Carbonell, chief of staff for Representative Lincoln Diaz-Balart, Republican of Florida, said more than 2,000 Cubans had already settled in the United States under the parole program.

“It brings to our community highly qualified professionals at a time of great need,” Ms. Carbonell said. “They work alongside U.S.-trained doctors, and they enhance any practice or wherever they work.”

Many have been able to obtain licenses and practice medicine. Others have chosen to settle for careers in the medical field but not as physicians, and some work in fields that have nothing to do with medicine.

“I know neurosurgeons who are working in warehouses or factories or as gas attendants,” said Julio César Alfonso, 40, who graduated from medical school in Cuba in 1992 and works as a clinic manager in Miami. “But I know many more who are working as nurses, medical assistants and technicians. Lianete Pérez, 37, works as a medical assistant in the office of a pediatrician in Miami. A former anesthesiologist, Dr. Pérez longed to leave Cuba, arrived in 2002 and is studying to take the medical exams later this year. Unlike other doctors who resent having their skills tested years after medical school, she said she welcomed the chance to go back to the books.

STILL STUDYING Lianete Pérez, 37, is a medical assistant for a pediatrician. A former anesthesiologist, Ms. Pérez is studying to take the medical exams later this year.

“There are enormous differences between medicine in Cuba and in the United States,” she said. “I can’t tell you that Cuban doctors are not well trained, but I can tell you that the books we used were edited in 1962, and for me, coming here was like starting all over again.”

Aside from old books, Cuban medical students and doctors must contend with a lack of modern equipment and, often, of drugs and diagnostic tools taken for granted in developed countries. But many expatriate doctors say their dealings with patients in Cuba were more humane and less rushed than they are in the United States.

Foreign doctors trained in languages other than English face immense challenges getting a license to practice in the United States. Not only must they relearn their profession in English, but many, like Dr. Domínguez, must also work to support themselves and their families. Cuban doctors, in particular, tend to be older by the time they arrive in the United States, sometimes too old to dedicate years to studying for exams and finding and completing a residency program.

Finding a residency program is almost impossible, they say, in part because most hospitals seek young doctors who can work long hours for little pay. A 40-year-old doctor is often deemed too old to be accepted in a residency program. Dr. J. Donald Temple, an associate professor of medicine at the University of Miami, said foreign-trained doctors faced the widespread perception that medical schools abroad are not as rigorous as medical schools in this country.

“They are not going to be accepted as readily as American-trained doctors are for some of the more competitive residency programs,” said Dr. Temple, who runs a training program for Latin American and Caribbean doctors to become leaders in the medical field in their own countries. “Many programs would not even consider them.”

Their loss is Miami’s gain. Just about any hospital in Miami can boast of having highly trained Cuban doctors working as nurses or medical assistants or even lab technicians.

Carlos Pérez-Sedano, 40, is one of them. He said he was sent to Ghana in September 2005. A year later, just two months after the parole program was announced, he applied for a United States visa. By December 2006, he was in Miami.

He now works as a case manager at Kendall Regional Hospital and is studying to take the exams for his Florida medical license. He says that half of the case managers in his department are Cuban doctors, and that at least 50 Cuban doctors work in other areas of the hospital, not all of them as physicians. Hospital officials at Kendall Regional say they keep no record of the nationality of their employees.

One out of every four doctors in the United States was trained overseas, said an American Medical Association official who deals with international doctors, but who is not authorized to speak to reporters and declined to give her name.

“We feel that international medical graduates are an integral part of our work force, and we don’t see that changing any time soon,” she said. “We rely very heavily on them because they take positions that are in underserved areas and go into primary care. Without them our country would be in dire straits, especially minority populations and the poor.”

This is the path that Dr. Juan A. Bereao took when he came from Cuba 11 years ago. A surgeon in Cuba, he now works as a house doctor in several South Florida hospitals, including Kendall. For three years before that, he was a resident in internal medical at Bronx-Lebanon Hospital in New York City, where most of his patients were poor and from ethnic or racial minorities.

Dr. Domínguez, the hospice nurse, said he was mostly at peace with the fact that no one calls him “Doctor” anymore, except some old patients from Cuba he sometimes run into in Miami. He earns more than $100,000 a year, sends his two children to private schools and vacations with his family in France and Spain. But he said a part of him would always pine for the profession — and the title.

“I’ve had to get used to think as a nurse, but it’s difficult,” he said. “Deep down, I’m still a doctor.”

domingo, 2 de agosto de 2009

É tudo um jogo de War



Por Fernando Araujo


A queda de Sarney é boa para o PSDB?É má para o Pt?Os tucanos vão ''ganhar'' São Paulo, vão ''perder'' tal estado ( para eles, eles se apropriam de nós) enfim, tudo o que acontece, não acontece para que tenhamos mais ética, moralidade, não importa se nos roubam mais ou menos.
Para a corja do PT e para um semi analfabeto gazeteiro chamado Lula, tudo o que acontece, tudo o que importa é se ele e seus camaradas do PT vão se beneficiar ou não, vão ''ganhar'' ou ''perder''.
Na cabeça dos petistas é tudo um grande jogo de War.
Eu quero o Senado!Eu quero Brasilia!Eu quero a Austrália!Afinal, quem tem a Austrália sempre vence, não é mesmo?

Essa não é a America que eu aprendi a admirar

Triste mundo correto

Um mundo correto

"Trata-se de um mundo cada vez mais correto,
no papel – e cada vez mais chato, na vida real."


Por J.R. Guzzo, na revista Veja

O cidadão que trabalha, paga impostos e trata, basicamente, da sua vida não faz ideia da quantidade de leis e regulamentos a que tem de obedecer hoje em dia para viver bem. Também não sabe a quantidade de coisas que está proibido de ler, ver e ouvir – mais uma vez, para o seu próprio bem. Ele mesmo, naturalmente, não sabe como cuidar de si, nem definir a sua qualidade de vida; é preciso, assim, que o poder público pense e decida em seu lugar, escolhendo o que é melhor para todos e para cada um, e isso desde a primeiríssima infância. A maior parte dos brasileiros não sabe, mas é proibido por lei, por exemplo, fazer publicidade de mamadeiras, chupetas e bicos para mamar, "em qualquer meio de comunicação" – e, para não ficar nenhuma dúvida, também são vetados "promoções, cupons de desconto, sorteios e brindes" envolvendo esses produtos. A ideia superior das autoridades, no caso, é promover a amamentação no seio materno. Para sorte dos bebês que não gostam de se alimentar assim (e das mães que não têm a quantidade de leite desejada pelo governo), continua permitida a fabricação, venda e uso de mamadeiras – mas é ilegal falar que elas existem. Não está claro qual o problema que foi resolvido com essa lei, mas se alguém perguntar a respeito aos peritos em saúde pública infantil provavelmente ouvirá que o Brasil tem uma das políticas de aleitamento "mais avançadas" do mundo.

A situação até que seria razoável se esse tipo de coisa ficasse mais ou menos por aí. Mas não fica. Rolam no Congresso Nacional, no momento, mais de 200 diferentes projetos de lei destinados, na visão de seus autores, a fazer o bem; todos eles estabelecem algum tipo de proibição ou de limitação à publicidade de produtos ou serviços. Fora do Congresso, a única instância autorizada pela Constituição a legislar sobre o tema, autoridades estaduais têm as mesmas ambições de criar regras sobre o que pode e o que não pode ser dito. O estado do Paraná, por exemplo, acaba de proibir que seja exposta em seu território qualquer peça de propaganda com palavras em idioma estrangeiro, a menos que esteja acompanhada de tradução. A decisão, desde logo, causa algumas sérias dificuldades de ordem prática. Como faz, por exemplo, um comerciante de computadores que precisa utilizar a palavra software num cartaz a ser colocado em sua vitrine? O texto da lei não apresenta nenhuma sugestão a respeito do procedimento a seguir.

O bonito, no caso, é que a própria lei que cria a proibição utiliza, logo no seu artigo 1º, uma palavra em idioma estrangeiro, caput, e não faz tradução nenhuma, o que, tecnicamente, deveria sujeitar o governo estadual a uma multa de 5 000 reais – ou até 10 000, talvez, se for considerado que o caso é de reincidência. É para lá de esquisita, também, a sintaxe utilizada na redação da lei. "A tradução", escreve-se ali, "deve ser do mesmo tamanho que as palavras em outro idioma expostas na propaganda" – ou seja, o governo do Paraná, tão preocupado com as línguas estrangeiras, não notou que seu principal problema, por enquanto, é mesmo com a língua portuguesa.

Tudo isso fica menos cômico quando se considera que a cada medida desse tipo a autoridade pública não apenas vem encher a paciência do brasileiro com mais uma interferência inútil em seu cotidiano; comete, igualmente, uma agressão contra a liberdade de expressão. É inevitável. Todas as vezes que se escreve alguma lei sobre questões nas quais a liberdade de expressão está envolvida, o cidadão fica menos livre para se exprimir; não se conhece, na experiência humana, nenhum episódio em que tenha acontecido o contrário. Outra consequência dessas tentativas de regular cada vez mais coisas é a criação de uma teia de obrigações na qual já não basta que o indivíduo obedeça à lei comum e respeite os direitos dos outros – ele precisa, também, levar uma vida considerada virtuosa e ser protegido de si próprio. Deve consumir alimentos com a quantidade correta de nutrientes e, de preferência, orgânicos. Não deve andar de automóvel. Deve considerar que vegetais como uma árvore, por exemplo, são titulares de direitos. Não deve tomar banhos com duração superior a três minutos, para não esgotar as reservas de água doce do planeta. Deve beber com moderação. Não deve assistir a programas de televisão (ou ler livros, ver filmes, ouvir músicas) que visem à obtenção de lucros comerciais. Deve, ao fim da linha, morrer no peso ideal.

Trata-se de um mundo cada vez mais correto, no papel – e cada vez mais chato, na vida real.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Voce acha que o estado tem limites??

Pois veja essa.
Deu no Globo de hoje:


Lula quer medidas para impedir saída de jogadores no meio do Brasileirão

BELO HORIZONTE - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta-feira a possibilidade de interferência no mercado de futebol. Ele não concorda com a negociação de jogadores brasileiros para o mercado europeu durante o Campeonato Brasileiro e citou especificamente os casos de Corinthians e Cruzeiro. Segundo o presidente, o problema pode ser enfrentado de duas formas: o calendário do campeonato brasileiro muda ou se encaminha o projeto de lei ao Congresso proibindo a venda de jogadores durante o campeonato.

- Alguma coisa a gente tem que fazer - disse o presidente, durante entrevista na base aérea de Belo Horizonte.