quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ontem, a Africa do Sul, hoje Israel e Arizona

EM PROTESTO

Artistas como Elvis Costello e Meg Ryan fazem boicote cultural a Israel

Plantão | Publicada em 25/08/2010 às 08h55m

Daniela Kresch
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Elvis Costello cancelou show em Israel / Foto Reuters

TEL AVIV - Comprou ingressos para um show de um artista estrangeiro em Israel? Isso não quer dizer que você vai conseguir assistir à apresentação. Nos últimos meses, uma enxurrada de cancelamentos tem frustrado os israelenses, ávidos por qualquer palinha de cultura estrangeira num país que não faz parte do "circuito Elizabeth Arden" dos eventos internacionais. Mas o verão quente contrasta com a frieza do crescente boicote cultural a Israel - motivo principal dos cancelamentos.

Nos últimos meses, músicos famosos como Carlos Santana, Elvis Costello e Snoop Dogg, além das bandas Leftfield, Pixies, Gorillaz e Klaxons, decidiram, na última hora, fazer forfait. A atriz Meg Ryan também cancelou sua participação no Festival de Cinema da Haifa.

O tom do boicote aumentou em vários decibéis depois do incidente com o navio turco Mavi Marmara, no dia 31 de maio, quando nove ativistas pró-palestinos foram mortos por soldados israelenses ao tentar furar o bloqueio marítimo à Faixa de Gaza. Para quem já via Israel de viés, a morte dos ativistas foi a gota d'água.

Para o mais renomado produtor cultural israelense, Shuki Weiss, Israel está sendo vítima de "terrorismo cultural". Depois de arcar com o prejuízo do cancelamento da banda americana Pixies, Weiss afirma ao GLOBO que quem sofre com tudo isso são apenas os fãs:

- Essas decisões repentinas afetam milhares de amantes da música. O show deve continuar em nome do pluralismo, para lembrar as pessoas de que neste mundo há mais do que violência e desastre. Se apresentar num país não quer dizer aprovar as políticas do governo desse país. Venham e digam aqui tudo o que quiserem. Israel é uma democracia.

Dias após o caso do Mavi Marmara, um grupo de 70 acadêmicos indianos, incluindo a escritora e ativista Arundhati Roy, divulgou um abaixo-assinado pedindo adesões a um boicote cultural e acadêmico a Israel. Outro grupo, de 150 artistas e intelectuais irlandeses, também anunciou o mesmo passo.

Não é de hoje que a política respinga na cultura, no caso de Israel. Escritores de renome como a americana Alice Walker e o escocês Iain Banks fazem campanha contra o país há anos em protesto contra a ocupação dos territórios palestinos. O cineasta britânico Ken Loach, por sua vez, retirou seu filme "Looking for Eric" do Festival de cinema da Melbourne de 2009 só porque a embaixada de Israel na Austrália estava entre os patrocinadores.

Condenações políticas já cruzaram muitas vezes a fronteira da cultura. Foi o que aconteceu, na década de 80, com o regime do apartheid, na África do Sul. Artistas de todo o mundo se negaram a visitar o país por causa do tratamento dispensado pela elite branca à maioria negra. No estado americano do Arizona, a recente lei contra imigrantes ilegais também tem sido alvo de embargo cultural.

"Há ocasiões em que meramente ter seu nome ligado a um cronograma de concertos pode ser interpretado como um ato político que ecoa mais do que qualquer música e que pode dar a entender que o artista não se importa com o sofrimento dos inocentes", escreveu Elvis Costello em seu blog logo após o cancelamento do show que faria em Tel Aviv, em junho.

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