quinta-feira, 9 de abril de 2009

A força dos inimigos abstratos



Desde os tempos imemoriais os governantes do mundo têm usado incriveis artifícios e subterfugios para controlar os que não estão na bocada-ou seja- eu e voce.
Um deles é o apelo para o emocional, para a exaltação de uma visão coletivista, onde é acusado de insensível aquele que não se vê no mesmo barco que os demais.Campanhas como ''O petróleo é nosso'' e ''o melhor do brasil são os brasileiros'' exploram este lado.
A outra face da moeda nacionalista vêm da xenofobia generalizada, da tentativa de se isolar o mal no lado de fora para que não existam questionamentos no lado de dentro, e de preferência criando-se um inimigo nacional, uma ameaça externa, um medo na população, e de preferência, algo que seja bastante abstrato, para que seja de dificil entendimento e logo, de dificil questionamento.
Enquanto escrevo estas linhas, o presidente e candidato a ditador Evo Morales faz uma greve de fome em seu palácio presidencial para que o congresso boliviano aprove uma lei que basicamente o permite disputar a reeleição a qual ele constitucionalmente não tem direito.As palavras de Evo Morales ao iniciar sua manifestação foi que a demora na aprovação desta lei é ''culpa de alguns deputados neoliberais''
Deste modo chegamos no que sempre foi o alvo preferido dos despotas latino americanos: o neoliberalismo.Está aí o culpado dos nossos males!Não é a corrupção, não é o uso dos recursos públicos para fins privados, e tudo culpa deste tal neoliberalismo.
Bem vejamos então o que isso significa.Neo quer dizer novo.E liberalismo e o conjunto de práticas economicas e politicas que defende democracia, redução do tomanho do estado, descentralização do poder e abertura comercial.Ora, no ranking dos países mais (neo) liberais, compilado anualmente pelo Heritage Foundation, os países latino americanos, com exceção exatamente do mais desenvolvido da região, o Chile, figuram entre os lanterninhas no quesito liberdades e abertura economica.Como então o culpado do atraso latino americano pode ser algo que temos muito menos que o resto do mundo??
Mas acalmem-se, esquerdistas latinos.Não são só os caudilhos daqui que usam inimigos abstratos para fortalecerem-se no poder.Agora sim vamos concordar em alguma coisa: a ''guerra contra o terrorismo'' de Bush nada mais foi que uma tentativa de fortalecer o poder executivo e impor na marra a própria agenda presidencial.Claro, nos Estados Unidos isso é feito de forma mai suave do que na america latina, afinal os controles institucionais lá são maiores.Mas ainda assim, os americanos caíram inocentemente na gritaria republicana de que os americanos deviam sim abrir mão de algumas liberdades individuais por causa da tal guerra contra o terror.No momento de pior histeria até se viu uma redução do senso crítico e dos questionamentos contra o governo, pois afinal tratava-se de uma ''guerra'' e era preciso mostrar patriotismo.Triste, para uma nação que sempre foi um farol de liberdade para as demais.
Existe todo o tipo de inimigos externos para se controlar o poder internamente.A própria américa, muito antes da guerra ao terror de Bush se viu numa ''guerra contra o comunismo'' que tambem gerava patrulhamento ideológico e de opinião.Isso tudo é uma ótima ajuda para governantes imporem suas agendas e reduziram as opiniões mais críticas contra eles mesmos.
Na america latina é claro, um inimigo muito conveniente é a ''expoliação'' praticada pelos americanos contra nós, pobres coitados.É muito mais fácil culpar alguem de fora por nossos problemas do que nos olharmos no espelho.Se ha duzentos anos atrás Brasil e Estados Unidos eram economias do mesmo tamanho, hoje a primeira é um decimo do tamanho da segunda.Nós culpamos os vizinhos do norte pelos nossos contratempos.Eles foram na direção inversa.Praticaram abertura comercial, quase não possuem empresas estatais e adotam regulaçãoes muito mais liberais para os negócios em geral. A diferença de performance entre os dois países que partiram do mesmo lugar ja fala por si.
Em Israel o medo e o antisemitismo são usados por seus próprios governantes como base de sustentação dos governos daquele país.
A força dos inimigos abstratos pode até ser vista nas campanhas do patrasto de um menor de idade carioca contra a intenção do pai americano de reconquistar a guarda de seu filho.Não faço idéia sobre com quem o menor deveria ficar.Não conheço o dia a dia daquela criança.Mas sem dúvida não acho que a nacionalidade do pai deveria interferir na decisão.
Da próxima vez que um político culpar um mal externo para um problema, ou usa-lo para impor alguma determinação dele mesmo, cuidado.A raiz do problema normalmente está muito mais próxima de casa do que eles gostariam de admitir.

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