quarta-feira, 14 de abril de 2010

Post matador retirado do site Ordem Livre.org

Recebi email de um leitor do Ordem Livre em que ele defendia as barreiras alfandegárias brasileiras ao mesmo tempo em que recriminava as barreiras alfandegárias americanas. Pelo que entendi, o Brasil está certo em taxar os produtos estrangeiros porque assim protege a indústria nacional. Já os Estados Unidos estão errados em taxar produtos brasileiros porque assim eles se comportam como canalhas. O Brasil taxa os produtos estrangeiros para proteger seu povo. Os americanos taxam para ferrar os outros povos. O Brasil taxa porque é abençoadamente de esquerda. Os Estados Unidos taxam porque são diabolicamente de direita.

É uma contradição interessante — quando a gente faz, é legal; quando os outros fazem, é sacanagem.

A verdade é que taxar produtos estrangeiros nunca é legal. É sempre sacanagem. É sempre concessão de privilégio. É sempre restrição de liberdade. É sempre bobagem econômica. E foi isso que tentei explicar na minha resposta:

“Caro leitor,

obrigado pelo comentário. Respeito seu ponto de vista, mas discordo completamente. Quando um país protege a indústria nacional, ele não enriquece o país como um todo. Ele enriquece apenas a indústria específica que está sendo protegida. Veja: se não houvesse barreira alfandegária, você poderia comprar um determinado produto estrangeiro por, vamos supor, R$ 100. Mas como a indústria nacional não consegue produzir (por diversos motivos) o mesmo produto por um preço semelhante, o governo, para proteger a indústria, coloca barreira alfandegária, elevando o preço do produto estrangeiro para, vamos supor, R$ 300. Assim, você e todos os demais consumidores do Brasil são obrigados a escolher entre:

Produto nacional (normalmente de qualidade inferior) a R$ 250
ou
Produto estrangeiro a R$ 300.

Independentemente da opção que você faça, você e todos os demais consumidores brasileiros terão que pagar mais pelo produto do que pagariam caso o governo não protegesse a tal da indústria. Em vez de gastar R$ 100, têm que gastar R$ 250 ou R$ 300.

Claro que, pra essa determinada indústria, o governo está agindo certo e garantindo que a fábrica continue funcionando, mesmo que ela não tenha competitividade suficiente para continuar funcionando em um mercado livre.

Mas... aí é que está o ponto: todo o resto da população sai perdendo. Se não existisse a barreira alfandegária e os consumidores pudessem pagar R$ 100 pelo produto, eles estariam economizando R$ 150 ou R$ 200. E se economizam R$ 150 ou R$ 200, eles podem gastar/investir esse dinheiro em outros produtos. Assim, com R$ 300 você não compraria apenas um produto de uma determinada empresa, mas sim dois ou mais produtos de uma ou mais empresas. Com o mesmo dinheiro que antes você comprava apenas um produto, agora você pode comprar mais produtos ou economizar mais dinheiro para investir em mais negócios ou em mais serviços (como educação e saúde, por exemplo). Mais empresas saem beneficiadas. Mais empregos são criados. Mais rico o país fica. E melhor você vive.

Esse é o argumento puramente econômico. Se você tiver interesse em se aprofundar nesse ponto de vista, recomendo a leitura do livro Ensaios do Bastiat (que pode ser baixado no site do Ordem Livre) e do livro Economia em uma única lição, de Henry Hazlitt. No mímino, você vai achar a leitura divertida (especialmente do Bastiat, que é muito divertido).

Agora, existe outro argumento, esse de ordem moral. Que direito tem o governo de me proibir de comprar o produto que eu quiser? Por que eu não posso comprar o Macbook, se eu quero um Macbook? Com que direito o governo eleva as tarifas de modo a tornar impeditivo para mim a aquisição de um produto que pessoas como eu e você produzem lá fora? Com que direito o governo retalha a minha liberdade de escolha? Com que direito ele me proíbe de ter uma vida melhor?

Proibir um cidadão, um contribuinte, de escolher o produto que quiser e pagar por ele o preço justo, é, na minha opinião, moralmente errado. E está na fronteira com o racismo. Por que os chineses valem menos do que nós? Por que os americanos merecem menos o meu dinheiro do que os brasileiros? Para mim, somos todos iguais.

Só mais um comentário: você escreveu: "Gostaria que o Fabio me explicasse como ele acha que os EUA se tornaram o país mais poderoso do mundo?"

Um dos motivos de os EUA serem o país mais rico e poderoso do mundo é porque lá eles aplicaram os princípios do livre mercado. Nos EUA, os carros japoneses e europeus competem de igual para igual com os carros americanos. Assim como as cervejas, os vinhos, as roupas, os produtos eletrônicos, etc. Eles estão longe de ser um país perfeito, mas são relativamente livres, permitem que seus consumidores tenham uma ampla margem de escolha e estimulam a competitividade, de modo que as empresas se esforçam sempre para produzir melhor por um preço mais baixo.

Existem outros motivos, todos relacionados ao livre mercado, ao controle do governo e a eficiência e separação dos três poderes. Coisas que, aqui no Brasil, ainda estão na pré-história. Infelizmente.”

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